23 de novembro de 2015
Da série Poesia em Metro: 'Tipo Elvis'
queria eu flutuar em cima da cama, a um palmo dos lençóis, sustentado apenas pela força da exigência e da necessidade do momento, como se quisesse levantar minha carne em direção ao sol, longe suficiente para não me queimar mas perto o bastante para matar a vontade, matar a saudade, sentir saudade dos dias que não foram fotografados, existem apenas na memória fraca e falha - quem confia na própria memória? - tudo podia ser exatamente registrado para consulta posterior, sempre que fosse preciso estaria ali à disposição dos curiosos e desocupados, e eu continuaria flutuando como alguém que precisa descolar a sola dos tênis do chão, as costas suadas dos lençóis da cama, separar um hemisfério cerebral do outro, matar a sede com copos d'água, cagar à vontade e jogar o papel no vaso, não fotografei tudo que quis por absoluta falta de memória, agora me arrependo e vejo os álbuns de fotos alheios, como quem espia pela fresta da cortina ou fica na escuta telefônica, louco para se agradar com cenas que não lhe pertencem, para se divertir com o fracasso / sucesso dos outros, invejar o porte físico, a conta bancária ou o corte de cabelo, tipo elvis.
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