Em 21 de agosto de 1989, há exatos 25 anos, morria Raul Seixas. Lembro que chorei quando recebi a notícia, e meu pai desdenhou. Eu tinha 15 anos e do meu toca-discos não saíam 'A Pedra do Gênesis', último disco solo, sem contar aquele com Marcelo Nova, que só fui ouvir recentemente, e uma coletânea chamada 'Caminhos'. Meses antes, Raulzito e Marceleza haviam feito show aqui em Porto Alegre, mas optei por não ir porque já sabia da péssima condição do maluco beleza. Nunca gostei de ver meus ídolos envelhecidos-capotados-decadentes, sempre tive problema com isso.
Coincidentemente, ando em uma fase de audição de toda a discografia de Raul Seixas, até piratas e raridades. O que acabou me fazendo ver dois filmes relacionados - 'Não Pare Na Pista - A melhor viagem de Paulo Coelho' e 'Raul Seixas - O início, o fim e o meio'. Bons filmes, ainda mais para quem é fã.
E aí fui me dar conta da fatídica data, um quarto de século de morte. Complicado rever - nos filmes citados - um Raul Seixas no auge da criatividade, da provocação, e depois ter que vê-lo como farrapo humano. A sequência no documentário que mostra sua última funcionária/namorada refazendo o caminho que ele fez na última noite de vida, chegando em seu prédio sem conseguir andar, ajudado pelo porteiro, é de fazer o Rambo chorar. Resta a obra, com brilhantes canções, outras não, mas com uma média muito alta de qualidade, coisa rara nas últimas décadas. Encerro com um trecho pouco conhecido, retirado de 'Areia da ampulheta', faixa do citado disco 'A Pedra do Gênesis'.
"Eu sou a areia da ampulheta / O lado mais leve da balança / O ignorante cultivado / O cão raivoso inconsciente / O boi diário servido em pratos / O pivete encurralado / Eu sou a areia da ampulheta".