27 de novembro de 2014
Locked love
Pois esses dias alguém colocou um cadeado em uma das grades da passarela sobre a avenida Goethe, que une os dois lados do Parcão. Nele, os dizeres 'Nice & Zoca'. Imagino que um casal prafrentex tenha feito tal proeza, visando uma marca pública de seu compromisso amoroso. Talvez ambos tenham uma cópia da chave, com a jura de que somente ao - evantual - final da relação, algum vá abrir o cadeado para tirá-lo dali. Enquanto isso, no 'eterno enquanto dura', fica o objeto bem preso na passarela, ao olhar de tantos passantes, lembrando as próprias façanhas quando apaixonados, e outras lembranças. Daria um bom roteiro para cinema.
Papi vota em Pepe, óbvio
Na banca de churros do Papi, simpático uruguaio que trabalha na esquina da 24 de Outubro com Nova York, agora há buttons de Pepe Mujica. Ele viajou recentemente a seu país para votar nas eleições presidenciais, cujo segundo turno é por este dias. Papi completou oitenta anos no mês passado, e segue firme no trabalho, conquistando a todos com seu jeito de vovô boa-praça. A propósito, veganos têm como opção o churros de goiabada, sendo que a massa básica é isenta de ingredientes de origem animal.
Um pôr-do-Sol logo ali
Conforme o dia e o horário, é possível estar no Mercado Público e acompanhar, via Sete de Setembro, toda a beleza do pôr-do-Sol no lago Guaíba. O segredo é ficar parado, alheio à zoeira perene dos veículos que ali fazem um 'S' para pegar a avenida Júlio de Castilhos - para onde vai toda essa gente, mesmo? - e relaxar. O espetáculo dura alguns minutos, embora pouca gente esteja, estando fora do Facebook e do What's App, acompanhando um show de cores e luzes. Um pôr-do-Sol logo ali.
Céus
Neste novo edifício da Tobias da Silva, quase em frente à saída secundária do Shopping Moinhos, é difícil precisar onde termina o céu e onde começa o arranha-céus. Que os passarinhos estejam com o GPS atualizado.
16 de novembro de 2014
'Vocês são os que não comem carne, né?' e o gado com fones de ouvido
por Marcio de Almeida Bueno
Na verdade, o abate é tão somente uma das faces da escravidão animal – de forma diferente, podemos citar os cavalos de carroça, os coelhos em laboratórios de testes de produtos, o touro na tourada, o macaco no zoológico, a lagosta viva no restaurante chique, os cachorros nas fazendas chinesas, a lista é quase infinita. Quer dizer, há o abate final após uma vida de não-liberdade, e há a vida inteira de tortura, sem a bênção da morte como fim do terror. Se bem que, por exemplo, os cavalinhos de carroça são estourados a vida toda, e na finaleta alguns acabam no abatedouro, diferente de seus iguais que capotaram no asfalto e espumaram pela boca até a chegada do toque piedoso da senhora Morte.
Então o cidadão médio nivela a coisa como ‘não comem carne, né?’, pelo máximo de excentricidade que consegue vislumbrar – um abstêmio, como já ouvi certa vez. Pensar naquilo que não lhe traz um ganho imediato, e sempre para si, está fora de cogitação, pois desde o parar de fumar até a reza aos domingos, é sempre para benefício pessoal, em última análise.
Mas há uma realidade por trás do glamour aparente, desta opção não-escolhida que a maioria segue entoando tal como não escolheu o time de futebol para o qual torce, mesmo que grite e pule a cada jogo assistido. E a grande massa pensa, por ignorância ou remorso, que tudo é como no sítio da Vovó Donalda, com animais felizes e de estimação. Uma rápida análise das embalagens dos produtos em supermercado nos faz pensar que os animais voluntariamente dão sua vida pela carne servida aos humanos, a galinha cordialmente se esforça para dar os ovos aos humanos, o porco aparece com chapéuzinho de cozinheiro, etc. Sempre para os humanos, jamais seus corpos-ingredientes são gentilmente cedidos às feras, aos predadores naturais – os tão citados carnívoros! – ou a quem, vá lá, esteja moribundo e morrendo de fome. Sempre ao dono-patrão-proprietário-’tutor’-patriarca-humano.
Aquela visão bucólica da pecuária, onde sempre parece que o gado está de fones de ouvido, praticamente meditando.
E os processos industriais ou da agricultura familiar não entram nesse cálculo, porque para quem morre ou dá seus anos de vida em troca de alimento diário, tanto faz se o algoz é de uma família quatrocentona latifundiária oligárquica ou é pobre, sem-terra. Há quem fique chocado ao ver uma castração a frio – ‘tradição’ cívica em regiões do RS – que ocorre sempre longe dos flashes da mídia comprometida em lamber as botas do patronato rural. Mas quem faz a castração a faca, faz de forma automática, com cigarro no canto da boca, já esquentando o fogareiro rústico para apreciar as bolas de touro, “que se abrem como couve-flor, quando está no ponto”, como já escutei.
Quem martela o gongo do antiespecismo pretende descolar as pálpebras da pessoa ao lado, largar uma bolinha de ping-pong nas ideias, com vistas não a um ganho seu, mas ao que percebe como justo. Talvez isso é o que provoque tantas reações contrárias e narizes torcidos, em um mundo onde quem não leva algum, está por fora.
E qualquer informação desagradável, imagem chocante, nada mais é que o mundo real, o expediente diário de quem decide a utilização deste ou daquele animal para seu lucro, ou para o lucro de seu patrão. Entretanto, a imagem desagradável do macaco no laboratório é fruto de quem acha que os animais estão aí para nos servir, a imagem desgradável do porco pendurado em ganchos é fruto de quem acha que os animais estão aí para nos servir de alimento, ‘e todo esforço é necessário, afinal de contas’. o antiespecismo aponta essa injustiça e propõe uma vida fora do que a ‘tradição’ manda.
Não se separa a atitude em gavetinhas etiquetadas, compartimentando as pessoas conforme os conceitos até então aprendidos – e que diariamente se provam errados. Não comer carne é ‘um pequeno passo para o homem’ etc. Mas é uma ação para abrir as demais portas, que como as pálpebras estavam seladas pelo bom-mocismo das ideias, pelo medo de parecer idiota.
Na verdade, o abate é tão somente uma das faces da escravidão animal – de forma diferente, podemos citar os cavalos de carroça, os coelhos em laboratórios de testes de produtos, o touro na tourada, o macaco no zoológico, a lagosta viva no restaurante chique, os cachorros nas fazendas chinesas, a lista é quase infinita. Quer dizer, há o abate final após uma vida de não-liberdade, e há a vida inteira de tortura, sem a bênção da morte como fim do terror. Se bem que, por exemplo, os cavalinhos de carroça são estourados a vida toda, e na finaleta alguns acabam no abatedouro, diferente de seus iguais que capotaram no asfalto e espumaram pela boca até a chegada do toque piedoso da senhora Morte.
Então o cidadão médio nivela a coisa como ‘não comem carne, né?’, pelo máximo de excentricidade que consegue vislumbrar – um abstêmio, como já ouvi certa vez. Pensar naquilo que não lhe traz um ganho imediato, e sempre para si, está fora de cogitação, pois desde o parar de fumar até a reza aos domingos, é sempre para benefício pessoal, em última análise.
Mas há uma realidade por trás do glamour aparente, desta opção não-escolhida que a maioria segue entoando tal como não escolheu o time de futebol para o qual torce, mesmo que grite e pule a cada jogo assistido. E a grande massa pensa, por ignorância ou remorso, que tudo é como no sítio da Vovó Donalda, com animais felizes e de estimação. Uma rápida análise das embalagens dos produtos em supermercado nos faz pensar que os animais voluntariamente dão sua vida pela carne servida aos humanos, a galinha cordialmente se esforça para dar os ovos aos humanos, o porco aparece com chapéuzinho de cozinheiro, etc. Sempre para os humanos, jamais seus corpos-ingredientes são gentilmente cedidos às feras, aos predadores naturais – os tão citados carnívoros! – ou a quem, vá lá, esteja moribundo e morrendo de fome. Sempre ao dono-patrão-proprietário-’tutor’-patriarca-humano.
Aquela visão bucólica da pecuária, onde sempre parece que o gado está de fones de ouvido, praticamente meditando.
E os processos industriais ou da agricultura familiar não entram nesse cálculo, porque para quem morre ou dá seus anos de vida em troca de alimento diário, tanto faz se o algoz é de uma família quatrocentona latifundiária oligárquica ou é pobre, sem-terra. Há quem fique chocado ao ver uma castração a frio – ‘tradição’ cívica em regiões do RS – que ocorre sempre longe dos flashes da mídia comprometida em lamber as botas do patronato rural. Mas quem faz a castração a faca, faz de forma automática, com cigarro no canto da boca, já esquentando o fogareiro rústico para apreciar as bolas de touro, “que se abrem como couve-flor, quando está no ponto”, como já escutei.
Quem martela o gongo do antiespecismo pretende descolar as pálpebras da pessoa ao lado, largar uma bolinha de ping-pong nas ideias, com vistas não a um ganho seu, mas ao que percebe como justo. Talvez isso é o que provoque tantas reações contrárias e narizes torcidos, em um mundo onde quem não leva algum, está por fora.
E qualquer informação desagradável, imagem chocante, nada mais é que o mundo real, o expediente diário de quem decide a utilização deste ou daquele animal para seu lucro, ou para o lucro de seu patrão. Entretanto, a imagem desagradável do macaco no laboratório é fruto de quem acha que os animais estão aí para nos servir, a imagem desgradável do porco pendurado em ganchos é fruto de quem acha que os animais estão aí para nos servir de alimento, ‘e todo esforço é necessário, afinal de contas’. o antiespecismo aponta essa injustiça e propõe uma vida fora do que a ‘tradição’ manda.
Não se separa a atitude em gavetinhas etiquetadas, compartimentando as pessoas conforme os conceitos até então aprendidos – e que diariamente se provam errados. Não comer carne é ‘um pequeno passo para o homem’ etc. Mas é uma ação para abrir as demais portas, que como as pálpebras estavam seladas pelo bom-mocismo das ideias, pelo medo de parecer idiota.
À venda em nossa eshop:
LIvro Havana 63, de Cesar Dorfman, edição de luxo de 2013 da Movimento, 330 páginas, formato maior, ilustrado, novo, ótimo estado de conservação, veja fotos.
A obra é resultado de quatro anos de buscas, pesquisas e reencontros que tentam remontar a história vivenciada pelo autor e outros 400 estudantes de arquitetura que participaram do Encontro Internacional de Professores e Estudantes e do VII Congresso da União Internacional de Arquitetos de Havana, em Cuba, em 1963. Algumas das histórias retratadas na viagem são encontros com um dos principais ideólogos e comandantes da Revolução Cubana, Che Guevara, e com Fidel Castro, também revolucionário comunista cubano e primeiro presidente do Conselho de Estado da República de Cuba. Dorfman também aborda as consequências nas vidas dos participantes dos eventos em Cuba após a instalação das ditaduras militares nos países sul-americanos. Cesar Dorfman é arquiteto formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1964. Nestes quase cinquenta anos de profissão, acumulou um notável currículo de projetos construídos e publicados, tendo na última década conquistado quatorze prêmios em Concursos Nacionais de Anteprojetos e recebido espaço especial na VII Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo. De 1976 a 2010, trabalhou como professor da UFRGS. O produto pode ser comprado em http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-602324478-havana-63-cesar-dorfman-cuba-che-guevara-fidel-unio-arquite-_JM#eshop_DIRETODEPORTOALEGRE.
A obra é resultado de quatro anos de buscas, pesquisas e reencontros que tentam remontar a história vivenciada pelo autor e outros 400 estudantes de arquitetura que participaram do Encontro Internacional de Professores e Estudantes e do VII Congresso da União Internacional de Arquitetos de Havana, em Cuba, em 1963. Algumas das histórias retratadas na viagem são encontros com um dos principais ideólogos e comandantes da Revolução Cubana, Che Guevara, e com Fidel Castro, também revolucionário comunista cubano e primeiro presidente do Conselho de Estado da República de Cuba. Dorfman também aborda as consequências nas vidas dos participantes dos eventos em Cuba após a instalação das ditaduras militares nos países sul-americanos. Cesar Dorfman é arquiteto formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1964. Nestes quase cinquenta anos de profissão, acumulou um notável currículo de projetos construídos e publicados, tendo na última década conquistado quatorze prêmios em Concursos Nacionais de Anteprojetos e recebido espaço especial na VII Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo. De 1976 a 2010, trabalhou como professor da UFRGS. O produto pode ser comprado em http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-602324478-havana-63-cesar-dorfman-cuba-che-guevara-fidel-unio-arquite-_JM#eshop_DIRETODEPORTOALEGRE.
Santa Casa com mais cor
No paredão do Complexo da Santa Casa, à beira do viaduto sobre a João Pessoa / Salgado Filho, uma colorida ilustração celebrou o Outubro Rosa.
Já fui cartunista
Desde a infância, desenhei bastante. Na pré-adolescência, passei a formatar melhor, fazer charges políticas, e tentar caprichar mais no traço. Na virada dos anos 90, tive o prazer de ter um desenho publicado na revista Níquel Náusea, do cartunista Fenrnando Gonzales. Meses depois, saíram três outros na Geraldão, do saudoso Glauco. Dias atrás, achei um exemplar à venda e comprei para fins de arquivo. Reproduzo abaixo a capa da edição e o melhor dos três cartuns então publicados. Eu tinha 14 ou 15 anos.
12 de novembro de 2014
Micro-conto número 1
por Marcio de Almeida Bueno
Carlos conheceu Bete em uma palestra chamada 'Kandinsy e a modernidade', e foi paixão à primeira vista. "Além de inteligente é bonita", Carlos pensava - "e é de falar pouco... deve ser uma dessas intelectuais reservadas". Casaram-se pouco tempo depois, e vivem felizes até hoje. o que Carlos não imagina é que Bete jamais soube quem era Kandisky - ela apenas fora naquela palestra porque seu horóscopo dizia "sorte no amor - procure estar em aglomerados de pessoas".
Carlos conheceu Bete em uma palestra chamada 'Kandinsy e a modernidade', e foi paixão à primeira vista. "Além de inteligente é bonita", Carlos pensava - "e é de falar pouco... deve ser uma dessas intelectuais reservadas". Casaram-se pouco tempo depois, e vivem felizes até hoje. o que Carlos não imagina é que Bete jamais soube quem era Kandisky - ela apenas fora naquela palestra porque seu horóscopo dizia "sorte no amor - procure estar em aglomerados de pessoas".
4 de novembro de 2014
do Jornal do Comércio: Jornal do Comércio promove troca de livros durante a feira
Marcio e Ellen participaram da troca de livros no Estande do Jornal do Comércio
Estimular a leitura e promover a interação entre os visitantes da 60ª edição da Feira do Livro de Porto Alegre é um dos objetivos do Jornal do Comércio. Este ano o estande, localizado na área central da feira, está promovendo troca de livros. Os visitantes podem trazer as obras que não querem mais e trocar por outras.
A bióloga Ellen Augusta e o jornalista Marcio de Almeida Bueno sempre visitam o estande do Jornal do Comércio durante a feira. “Sempre tive biblioteca desde criança, portanto, tenho muitos livros em casa”, comenta Bueno. Os dois trouxeram alguns exemplares da sua coleção, que já estão esperando por novos donos aqui no estande.
Publicado originalmente em http://jcrs.uol.com.br/acontecendo/jornal-do-comercio-promove-troca-de-livros-durante-a-feira/.
Estimular a leitura e promover a interação entre os visitantes da 60ª edição da Feira do Livro de Porto Alegre é um dos objetivos do Jornal do Comércio. Este ano o estande, localizado na área central da feira, está promovendo troca de livros. Os visitantes podem trazer as obras que não querem mais e trocar por outras.
A bióloga Ellen Augusta e o jornalista Marcio de Almeida Bueno sempre visitam o estande do Jornal do Comércio durante a feira. “Sempre tive biblioteca desde criança, portanto, tenho muitos livros em casa”, comenta Bueno. Os dois trouxeram alguns exemplares da sua coleção, que já estão esperando por novos donos aqui no estande.
Publicado originalmente em http://jcrs.uol.com.br/acontecendo/jornal-do-comercio-promove-troca-de-livros-durante-a-feira/.
Natureza quadriculada ou 'se tem animal e lucro, tem arame farpado'
Por Marcio de Almeida Bueno
A primeira conversa pega-trouxa que autoridades em geral e representantes do setor da pecuária repetem é ‘desenvolvimento sustentável’. Senão, vejamos. O Brasil ocupa a segunda posição em termos de rebanho de gado bovino, perdendo apenas para a Índia. Dados do Censo 2010 apontam 200 milhões de vacas e bois no país, sendo Corumbá, no MS, a cidade com maior população bovina - dois milhões. Já cai por terra o mito do Sítio da Vovó Donalda, onde há apenas uma vaca - com nome próprio, flor na orelha, fita na cabeça - que parece viver como um animal de estimação.
Ainda tem ingênuos que pensam a pecuária como uma atividade de manter o gado por toda a vida em bucólicos gramados, dando toda a assistência - 'a vida que pedi a Deus' - até que um dia ZAP!, tão rápido quanto um piscar de olhos, é feito um acerto de contas para dar de comer às legiões de esfomeados. Miseráveis esfomeados x vacas gordas usufruindo de spa em meio à natureza - eis como a coisa parece ser posta, na argumentação de alguns teimosos.
Há sempre um arame farpado separando a manada do resto da natureza. E especialmente de sua própria natureza, de correr um pouco, andar para qualquer lugar que não seja a rota do brete. Cada vez mais, é mais gado em menos espaço, em mais áreas - inclusive locais sagrados como Amazônia e Pantanal. Mas isso não conta na hora de reunir os amigos para um domingo de alegria. De outra forma, não flui.
Então temos que engolir um novo termo moldado de acordo com os novos tempos - desenvolvimento sustentável - e que parece aplacar o remorso que o cidadão comum começa a ter, ao ver as sacudidas da natureza. Lentamente, Tico e Teco vão se dando as mãos. Alguém fala que não come carne - e, estranhamente, não caiu fulminado por um doença terrível minutos depois, nem por um raio enviado dos céus. Pelo contrário, até está com exames de sangue melhorzinhos. A próstata agradece, inclusive.
Mas o termo serve pra acalmar qualquer leve desespero, tentativa de reflexão que venha a questionar o modus operandi deste nosso sistema de ruralistas fazendo crer que o desenvolvimento é para todos, sem conta bancaria própria no meio. Como se escravizar os animais para fins de lucro, com arames farpados para manter controle, seja algo que se deva agradecer. E depois os açougues distribuem a carne à legião de esfomeados, claro.
E a natureza, essa coisa amorfa que cabe no discurso de qualquer aventureiro, está se tornando quadriculada, em nome de um orgulho pela pujança de terceiros. Que, de alguma forma, incluem no pacote do progresso qualquer um que pegue uns bons cortes de carne no açougue, para o próximo domingo. De graça, claro.
A primeira conversa pega-trouxa que autoridades em geral e representantes do setor da pecuária repetem é ‘desenvolvimento sustentável’. Senão, vejamos. O Brasil ocupa a segunda posição em termos de rebanho de gado bovino, perdendo apenas para a Índia. Dados do Censo 2010 apontam 200 milhões de vacas e bois no país, sendo Corumbá, no MS, a cidade com maior população bovina - dois milhões. Já cai por terra o mito do Sítio da Vovó Donalda, onde há apenas uma vaca - com nome próprio, flor na orelha, fita na cabeça - que parece viver como um animal de estimação.
Ainda tem ingênuos que pensam a pecuária como uma atividade de manter o gado por toda a vida em bucólicos gramados, dando toda a assistência - 'a vida que pedi a Deus' - até que um dia ZAP!, tão rápido quanto um piscar de olhos, é feito um acerto de contas para dar de comer às legiões de esfomeados. Miseráveis esfomeados x vacas gordas usufruindo de spa em meio à natureza - eis como a coisa parece ser posta, na argumentação de alguns teimosos.
Há sempre um arame farpado separando a manada do resto da natureza. E especialmente de sua própria natureza, de correr um pouco, andar para qualquer lugar que não seja a rota do brete. Cada vez mais, é mais gado em menos espaço, em mais áreas - inclusive locais sagrados como Amazônia e Pantanal. Mas isso não conta na hora de reunir os amigos para um domingo de alegria. De outra forma, não flui.
Então temos que engolir um novo termo moldado de acordo com os novos tempos - desenvolvimento sustentável - e que parece aplacar o remorso que o cidadão comum começa a ter, ao ver as sacudidas da natureza. Lentamente, Tico e Teco vão se dando as mãos. Alguém fala que não come carne - e, estranhamente, não caiu fulminado por um doença terrível minutos depois, nem por um raio enviado dos céus. Pelo contrário, até está com exames de sangue melhorzinhos. A próstata agradece, inclusive.
Mas o termo serve pra acalmar qualquer leve desespero, tentativa de reflexão que venha a questionar o modus operandi deste nosso sistema de ruralistas fazendo crer que o desenvolvimento é para todos, sem conta bancaria própria no meio. Como se escravizar os animais para fins de lucro, com arames farpados para manter controle, seja algo que se deva agradecer. E depois os açougues distribuem a carne à legião de esfomeados, claro.
E a natureza, essa coisa amorfa que cabe no discurso de qualquer aventureiro, está se tornando quadriculada, em nome de um orgulho pela pujança de terceiros. Que, de alguma forma, incluem no pacote do progresso qualquer um que pegue uns bons cortes de carne no açougue, para o próximo domingo. De graça, claro.
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Voluntários ao poente
O poente em Porto Alegre afeta até a Voluntários da Pátria, passado o alvoroço do horário de expediente.
Cartaz-paródia satiriza Sartori
Passadas as eleições, este hilário cartaz na Independência com Fernandes Vieira debocha do novo governador.
Ao vivo na Rua da Praia
Na Rua da Praia, a banda manda ver no improviso, e o mendigo assiste a tudo na primeira fila. O baterista é muito bom, e até deixa o guitarrista meio inibido.
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